sábado, 22 de setembro de 2012

#9 Carta para alguém que gostasses de conhecer

(9ª carta do desafio)
 
#9 Carta para alguém que eu gostava de conhecer
  
   Esta carta é para ti, para ti e para todos aqueles que não tiveram a oportunidade de ver este maravilhoso mundo, que não chegaram a abrir os olhos para a verdadeira vida, que não poluiram o ar com o seu dióxido de carbono ou que não nos arrepiaram com os seus gritos estridentes e a plenos pulmões.
   Esta carta é para ti, que não terás, e não tiveste, a oportunidade de conhecer aquilo que te estava reservado e a que todos os seres humanos têm direito: a vida.
   Talvez os teus pais não tivessem condições económicas ou, simplesmente, tenham sido egoístas e, por um momento de prazer, esqueceram que coisas como tu, maravilhosas mas por vezes inconvenientes, são geradas quando menos se espera. Devias ser uma daquelas notícias estonteantes, que deixa toda a gente feliz da vida mas tornaste, por vezes, um empecilho e os problemas que acarretas ensombram e não deixam vislumbrar todas as alegrias que serias capaz de proporcionar.
   Tenho pena que nunca venhas a conhecer isto! É verdade que os que cá andamos já somos muitos e que, de dia para dia, somos cada vez mais. É verdade que estamos a destruir esta bonita casa que , tenho a certeza, gostarias de conhecer. É verdade que alguns de nós não são verdadeiros seres humanos, que há maldade, mesquinhez, atrocidades inconcebíveis e muitas muitas coisas horríveis por esse mundo fora. É verdade que nem tudo são mares de rosas.
   Ainda assim, gostava que pudesses ter testemunhado tudo isto, o bom e o mau, com os teus próprios olhos. Gostava que pudesses retirar as tuas próprias conclusões e formular uma opinião bem fundamentada e experenciada. Gostava que não te tivessem tirado essa change tão cedo, tão prematuramente. Gostava que pudesses ter crescido, que tivesses conhecido a tua alma gémea e que tivesses sido feliz para sempre. Não que eu esteja certa de que esse fosse, exatamente, o teu futuro. Como já te disse, há muitas coisas más também, muita gente infeliz. Mas nunca se sabe.
   Tenho pena que te tenham cortado as pernas ou, neste caso, a vida inteira. Tenho pena que não tenhas passado de um pequeno projeto daquilo em que te poderias ter tornado. Tenho pena que não tenhas podido deixar a tua marca no mundo.
    Mesmo com tão pouco tempo de existência sei que, tal como todas as almas puras, és um anjo que deambula por aí e que tomas conta dos que tiveram a sorte, ou talvez não tanto assim, de conhecer esta realidade. Talvez seja aí, nesse sítio, que, um dia, eu te venha finalmente a conhecer.
 



1 comentário:

Anónimo disse...

Que texto LINDO!
Adorei :)