sábado, 18 de agosto de 2012

#4 Carta para a tua irmã\irmão\parente mais próximo

(4ª carta do desafio)

#4 Carta para o meu irmão

   É díficil, bastante díficil até, escrever uma carta para ti.
   És, talvez, a pessoa que mais consigo odiar e amar, ao mesmo tempo. És a coisa mais chata e a coisa mais fofa, ao mesmo tempo. És o maior sacana e o mais prestável, ao mesmo tempo.
   Lembro-me da noite em que nasceste. Lembro-me do pai a arrancar-me de casa e a deixar-me na da avó. Lembro-me de não ver a mãe. Lembro-me de, nessa noite, ter aprendido o Pai-Nosso e mais umas quantas rezas de que hoje não me lembro. Lembro-me de as aprender para que tudo corresse bem contigo. Lembro-me de dormir no sofá-cama da sala da avó e de não querer sair dali, apesar dos pedidos dela. Lembro-me do telefone tocar, tarde. Lembro-me de ver o pai, no dia a seguir. Não me lembro de mais nada. Nem maternidade, nem mãe, nem tu. É estranho o que a memória consegue, ou não, reter.
   As minhas primeiras recordações de ti aparecem pela altura dos teus 2 ou 3 anos. Aparecem contigo a puxar-me os cabelos. Aparecem contigo a fazer bolinhas de ranho no nariz. Aparecem contigo e com essa carpete que tens em cima da cabeça. Aparecem com os ciúmes que tive.
   Ao longo dos anos, disse-te muitas vezes um 'odeio-te' que não é verdadeiro, ou um 'desejava que nunca tivesses nascido' que não é, de todo, sinceramente sentido.
   Hás-de ser sempre o meu puto, o mais chato e melga de todos. Aquele que só tem cultura geral quando se trata de filmes e jogos. Aquele que detesta ler e que odeia que eu tire boas notas, só porque os pais, depois, te exigem o mesmo. Aquele a quem eu gosto de dar ordens e quem não as ouve, nem tão pouco as cumpre.
   Apesar de tudo, não quero nem sequer pensar em perder-te. Arrufos de irmãos são normais. Gosto de te chamar 'parvo' e 'anormal' e até já tu aprendeste que essa é a minha forma de demonstrar afecto! Nunca vou gostar de te dar beijos e abraços e jamais vou aturar essas tuas perguntas estúpidas. Mas sei que vais estar sempre no meu coração, na minha cabeça ou onde quer que se guardem as pessoas importantes.
    Porque, ainda que não saibas, ou não o demonstre muito, és muito importante para mim!




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